É com muita tristeza que todos nós, leitores dos quadrinhos Disney, recebemos ontem ao final do dia a notícia da morte de ninguém menos que o grande Renato Canini.
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(1936 - 2013) |
Gigante do quadrinho nacional, indisputadamente um dos maiores expoentes da produção disneyiana brasileira, Canini faleceu ontem, aos 77 anos, em sua residência em Pelotas - RS, vítima de um mal súbito, decorrente de um problema cardíaco.
Nascido em 22 de fevereiro de 1936, na cidade de Paraí, Canini cresceu em Barril (atualmente Frederico Westphalen), tendo se mudado para a cidade de Garibaldi aos 10 anos de idade. Tendo se interessado desde a juventude pelo desenho, em 1957 teve seu primeiro trabalho publicado pela revista Cacique, da Secretaria de Educação e Cultura de Porto Alegre. Em 1962 criou Zé Candango, seu primeiro personagem. Em 1967 mudou-se para São Paulo, trabalhando na publicação infantil Bem-Te-Vi, da Imprensa Metodista. Em 1969 começou a trabalhar para a Editora Abril, com ilustrações para a revista Recreio.
Seu trabalho com os quadrinhos Disney se iniciou no ano seguinte, quando trabalhou em sua primeira história do Zé Carioca, "O Leão Que Espirrava", publicada em 1971. Esta história por sinal também trouxe a estréia do Zé Paulista, primeiro de uma série de primos do Zé criados pelo Mestre. Com saudades de casa, mudou-se para Porto Alegre, enviando seus trabalhos através da correspondência interna da editora.
Outras criações decisivas para o universo do papagaio que surgiram através do traço de Canini foram o Afonsinho (na história "A Escola de Detetives", de 1975) e o Pedrão (em "Resultado 'Chutado", de 1973). Porém, mais do que essas contribuições pontuais, Canini foi responsável pela evolução do personagem e de seu universo, tornando-o a versão definitiva do personagem como nós o conhecemos.
Tal processo se deu através do "abrasileiramento" do personagem, bem como da criação de locais e situações que se tornaram o cerne de nossa versão do Zé Carioca. Sem Canini não haveria, para citar alguns, os primos do Zé, a Agência de Detetives Moleza, a primeira versão do Morcego Verde e a ANACOZECA. Em suma, não existiria a Vila Xurupita como a conhecemos. A maior parte de suas criações se deu com a parceria com o grande roteirista, também já falecido Ivan Saidenberg.
Dono de um traço único, que rompia com os padrões Disney da época e encanta até hoje pela grande expressividade aliada à simplicidade, o trabalho de Canini foi questionado pela multinacional não apenas pelo traço mas também pelas localizações das histórias, que muitas vezes apresentavam os personagens nas favelas.
A incompreensão porém vinha por parte apenas dos executivos mal-informados, pois a aceitação do material já era grande pelos fãs da época, que podiam reconhecer suas histórias através não apenas do traço característico mas das marcas que ele deixava em seu trabalho (lojas e estabelecimentos com seu nome, e o tradicionalíssimo "caracol" que era sua assinatura artística).
Outros trabalhos de Canini dentro da Abril no período envolveram as revistas Crás! (de onde surgiu seu personagem Kactus Kid) e Pancada.
Após seis anos (1971 - 1977) de trabalho com o Zé Carioca, Canini se desligou das produções Disney nacionais (enquanto desenhista, embora tenha contribuído com alguns poucos roteiros até o início dos anos 80), deixando um legado ímpar ao personagem, além de uma relativamente vasta produção, que se destaca até hoje como uma das obras mais originais e marcantes de nossa nona arte.
Além de Kactus Kid, outras criações próprias de Canini de destaque foram o Dr. Fraud e o indiozinho Tibica, que surgiu no projeto Tiras da Abril e que foi recentemente reeditado.
Recentemente, Canini participou de alguns eventos de Quadrinhos nacionais, onde falou sobre seus novos trabalhos e foi homenageado por fãs disneyianos pelo trabalho icônico com Zé Carioca. Pra quem quiser, há alguns vídeos desses eventos no YouTube: aqui, aqui e aqui. Ficamos especialmente felizes que tais homenagens possam ter sido prestadas em vida, sendo que é comum aos visionários que seu reconhecimento ao largo público seja sempre tão tardio.
Como sempre, nessas situações, vai-se o Mestre, fica a obra. Vá com Deus e obrigado pelo seu trabalho, Canini!
Kinhalchemist, Alphons e todos os Esquilos